Quem é Jeff Widener?
Americano nascido em 1956, Jeff Widener sempre quis ser fotógrafo, fotojornalista mais precisamente. Embora haja pouco nas mídias sobre ele, sua biografia ficou marcada pela "The Tank Man" ou "O Rebelde Desconhecido" uma foto icônica feita em 1989 que registra o massacre na Praça Tiananmen, na China,
A ditadura chinesa, claro, nega esse período obscuro e não há qualquer menção às dezenas de milhares de mortos, mas as fotos provam o contrário, eram dezenas de jornalistas que estavam na cidade.
Como foi feita "The Tank Man" (O Rebelde Desconhecido)?
Mas se haviam tantos jornalistas assim, como só essa foto correu o mundo? São tantas improbabilidades que cercam essa imagem que sua existência é quase um milagre!
Para conseguir cobrir o movimento pró-democracia que tomava conta no país, os fotógrafos precisavam ir até o consulado dizendo que seu passaporte tinha sido roubado, obter um novo (sem registro anterior de visto de jornalista), comprar um pacote de turismo e deixar que a agência solicitasse seu visto no país.
Passado esse primeiro entrave, era necessário entrar no país carregando a montanha de equipamento necessária na época. Jeff chegou a levar um laboratório de revelação portátil consigo.
O cerceamento policial era estreito e quem portasse câmeras e equipamento profissional era preso!
Uma galinha abençoada
Na hora da revista, a galinha que uma mulher transportava clandestinamente fugiu e com o estardalhaço Jeff Widener acabou não sendo revistado. Já na cidade, enquanto estava fazendo a cobertura das manifestações, sobreviveu a uma forte pedrada no rosto graças a sua câmera.
Como o equipamento destruído e o rosto coberto de sangue, conseguiu voltar para a redação para levar os filmes e pegar outra câmera.
Um ângulo de visão seguro
Para ter uma melhor visão da Praça Tiananmen, onde era o campo de guerra da manifestação, Jeff Widener precisava estar dentro de um hotel cercado de policiamento.
A estratégia foi falar com um total desconhecido que estava na recepção usando uma camiseta do Rambo, short e chinelo, funcionou! Tratando-o como se fosse um antigo amigo, o rapaz percebeu a artimanha, seguiu na farsa e permitiu que o fotógrafo subisse até o seu quarto para ter a visão da sacada.
Surge um grande problema: Jeff já estava sem filme e não tinha como voltar à redação para conseguir mais ( sim, isso existia..rs).
O amigo de infância chinês que o socorreu partiu em busca de mais rolos com os outros hóspedes do hotel e assim a sessão continuou, é incrível essa história, qualquer um já teria desistido!
O "Rebelde Desconhecido" atrapalhava a composição.
Na sacada, Jeff se posicionou para tirar a foto do que lhe chamou a atenção: uma longa fileira de tanques seguindo pela rua larga e vazia. Quando estava pronto para bater, um homem carregando sacolas de compras entrou na frente dos tanques.
Widener não ficou nada feliz, ao contrário, pensou que aquele homem havia estragado a composição da sua foto. E ficou ali aguardando que ele fosse atropelado ou fuzilado, fato que já tinha acontecido várias vezes na cidade.
Para espanto de todos, o tempo passava e tanto o homem quanto os tanques permaneciam imóveis.
Aqui acontece o milagre: Jeff só tinha um rolo de filme, um Fuji color ASA 100, configurou a câmera para ISO 100 mas esqueceu que a velocidade do obturador estava para ISO 800, que era o que normalmente usava.
Estava 3 stops abaixo do que era recomendado para aquela foto, fez apenas três fotos, só uma, a que circulou o mundo, não foi perdida pela baixa velocidade.
A única que se salvou já deve ter sido vista por todos nesse planeta, ao menos uma vez na vida.
Apenas 3 fotos!
Não basta fazer a foto, tem que entregar!
Agora a dificuldade era fazer essa foto chegar até a redação: cidade totalmente em caos, perigo tanto por parte dos manifestantes quanto por parte da polícia. Widener estava debilitado por conta de uma gripe fortíssima que só piorava, restava então incumbir o hóspede que veio dos céus com mais essa missão.
Ele não conseguiu chegar até a redação, mas teve uma idéia brilhante: entregar o rolo de filme para o consulado americano, avisando da urgência do seu conteúdo. Funcionou!
Mesmo com outros 3 fotógrafos tendo feito a mesma foto de Widener, a dele foi a primeira a chegar nas redações, inundando as mídias da época com a imagem já mítica, lembre-se de que naquela época não era tão fácil enviar um arquivo, ainda mais na China.
Ou seja, fica a lição de perseverar diante das dificuldades, certo?
“Eu preciso de mais caos em minhas imagens ...”
Terril Jones: O Rebelde Desconhecido de outro ângulo
Em 4 de junho de 2009, 20 anos após a revolta na Praça Tiananmen, o repórter Terril Jones revelou uma fotografia que tirou mostrando o Rebelde Desconhecido do solo, de um ângulo diferente e nunca antes visto. Jones escreveu que ele não tinha noção de que tinha capturado algo surpreendente no canto superior esquerdo da imagem, olhe acima atentamente.
Em Abril de 1998, a revista Time incluiu “O Rebelde Desconhecido” , The Tank Man, na lista das 100 fotografias mais influentes do século.
Uma carreira atrelada a uma foto
Essa foto marcou Jeff para sempre. Há centenas de entrevistas e reportagens contando sua história, mas Widener fez mais do que isso, começou como fotojornalista aos 21 anos e tentou por seis anos até conseguir integrar a equipe do AP – Associated Press, que era onde trabalhava quando fez a foto da sua vida.
Cobriu inúmeras guerras, possui diversas fotos documentais significativas, todas marcadas pelo seu estilo muito próprio de composição com grafismos e reflexos em superfícies. Apesar disso, ao procurar por "Jeff Widener" na internet é difícil achar outras fotos além das tiradas no massacre chinês.
Aqui temos que ratificar a sabedoria de Sebastião Salgado ao abrir mão da foto icônica que fez do atentado ao presidente Ronald Reagan para não ficar marcado por ela.
Talvez Jeff devesse ter feito o mesmo.
Espero que tenha curtido essa história, é incrível ver como tudo aconteceu!
Sensacional!!!!